Futebol de Formação: como se trabalha em tempo de pandemia

 

A forma como o Futebol de Formação do Benfica tem atuado e lidado com as limitações decorrentes da pandemia é o foco principal de um trabalho, lavrado pelo "The Athletic", que contou com testemunhos de quem vivencia este "novo" quotidiano no Benfica Campus.

O site "The Athletic", que faz cobertura desportiva em 47 cidades da América do Norte e no Reino Unido, verificou e apurou como é a vida numa academia em Inglaterra neste tempo pandémico. Depois, como se explica na reportagem agora publicada, quis complementar o estudo e analisar a mesma situação numa academia de topo fora do Reino Unido. O quartel-general das águias, vencedor de vários prémios de excelência, foi o escolhido. O impacto sentido, as dificuldades encontradas e as perspetivas para o futuro foram temas escalpelizados.

As competições para os escalões abaixo dos 19 anos estão paradas desde março de 2020, há dez meses, por decisão da Federação Portuguesa de Futebol. Este facto interfere e faz perigar a normal evolução de uma geração de atletas.

"Todos estamos conscientes do impacto que isto vai ter no desenvolvimento dos nossos jogadores. A competição é essencial ao desenvolvimento e esta geração está a ser privada de realizar um número elevado de jogos. Temos de ser criativos. É importante encontrar um balanço entre o suporte dos atletas e os desafios que lhes podemos colocar, para que possam continuar motivados. Temos de passar energia positiva aos jogadores. É uma tarefa completamente diferente, mas é um bom teste", explicou Pedro Marques, diretor técnico do Futebol de Formação do Benfica.

O cancelamento das competições devido à pandemia originou diversas contrariedades. Manter a forma física em casa não é fácil, há a falta do contacto cara a cara e o lado psicológico dos atletas acaba também por ser afetado. É uma fase muito delicada para todos os jovens.

"Obviamente que a falta de competição nos escalões mais velhos é uma preocupação. É uma parte fundamental no processo de desenvolvimento do potencial dos atletas. Os atletas mais novos ainda estão no processo inicial de aprendizagem, onde desenvolvem a componente técnica, a relação com a bola e têm o primeiro contacto com a competição... é aqui que se desenvolvem as ações técnicas individuais, se cria a paixão pelo jogo e se começa a entender os princípios do mesmo. Esta é a idade de ouro para o desenvolvimento destas componentes, pelo que o impacto da ausência de competição, embora sendo menor, também afeta uma fase sensível do crescimento dos jovens atletas", apontou o coordenador técnico Rodrigo Magalhães.

"Há uma grande diferença entre disputar um jogo e treinar sozinho, em casa, pelo Zoom. A rotina diária desses jogadores fica destruída. A sua vida quase que perde o sentido. As novas rotinas começaram por ser complicadas para alguns deles, contudo, os treinadores e os psicólogos tentaram ajudar os jogadores a manter o foco para pensamentos positivos, para que se mantenham motivados", detalhou Pedro Marques.

SABER SEMEAR AGORA PARA COLHER DEPOIS

Tomé Eusébio, médio Sub-15 do Benfica, e José Sampaio, defesa-central Sub-16, tentam centrar os seus pensamentos no lado positivo e não nas dificuldades criadas pela conjuntura. Acreditam que o futuro será mais risonho e que todo o trabalho efetuado ao longo do confinamento há de gerar frutos mais tarde.

"Há que olhar para o lado positivo. Temo-nos focado em aspetos do nosso jogo que podem ser melhorados. Por exemplo, eu tenho feito muito trabalho de coordenação. Quando tudo isto terminar, estas valências vão-se manter connosco para os próximos anos", contou Tomé Eusébio.

"Ao início foi muito complicado. Conseguimos perceber rapidamente que esta situação não ia ser ultrapassada numa semana ou num mês. Podemos não estar a desenvolver-nos da mesma forma que estaríamos se pudéssemos disputar jogos, contudo, podemos trabalhar em partes do nosso jogo que, normalmente, não temos tanto tempo. Tenho passado bastante tempo a realizar trabalho de flexibilidade. Espero que isso me torne num melhor jogador. Quando pudermos voltar a jogar será muito bom. Vai ser uma alegria e vamos jogar como nunca", rematou José Sampaio.