"Queremos continuar a ganhar"

Ao ver a forma serena e

resoluta como inicia e, muitas vezes, conclui as ações de ataque da equipa tricampeã nacional de basquetebol do Benfica, dificilmente imaginaria que os primeiros passos de José Barbosa no desporto seriam dados no futebol, num período da sua infância ainda anterior à primeira experiência na modalidade em que se tornou internacional e referência.

No clube da sua terra natal, a Oliveirense, pela qual venceu dois campeonatos consecutivos antes de se mudar para o Benfica, as primeiras camisolas que vestiu foram de uma equipa dos escalões de formação do futebol.

Porém, aos primeiros pontapés no couro, José Barbosa não se distinguiu, e a mudança para o basquetebol tornou-se natural e até profética, já que viria a tornar-se o melhor base português da sua geração, o que lhe permitiu conquistar títulos, honrarias e uma transferência para o seu clube do coração. Tudo contado e explicado em entrevista no programa Protagonista, da BTV.

"Ser campeão no Benfica é uma sensação indescritível. Tem que ver com a dimensão do Clube, com a sua grandeza"José Barbosa

BENFIQUISTA DESDE PEQUENO

"Sempre fui benfiquista e sempre mantive esse desejo de me tornar jogador do Benfica. Antes do convite que me foi dirigido, há três anos, já tinha tido outras hipóteses de me transferir para o Clube, mas o nascimento da minha filha não permitiu que eu viesse mais cedo, porque, naquela fase, dei prioridade ao crescimento dela num ambiente mais próximo, com a minha família e com os meus amigos. Mas, quando me foi dirigido novo convite, percebi que era a última oportunidade que tinha de jogar no Benfica, que sempre foi o meu clube do coração. E consegui concretizar, finalmente, esse sonho, meu e dos que me são mais próximos. E tem corrido tudo muito bem, porque me senti sempre muito acarinhado."

JOGADOR DE TREINADOR

"Eu sou jogador do Benfica, não sou jogador do Norberto Alves. Mas é natural que exista uma identificação entre os dois. Assim que soube que Norberto Alves iria ser treinador do Benfica, isso facilitou-me na escolha de vir para o Clube. Fui campeão com ele, na Oliveirense, e juntos somos campeões há cinco anos consecutivos. Isso deixa marcas e aprofunda a nossa relação. Mas, no plantel, não me sinto especial por isso, nem o treinador me favorece por causa dessa relação. Mas, claro, quando estou em campo, sei exatamente o que o treinador espera de mim, o que espera que eu faça, porque conheço bem as suas ideias. Desse ponto de vista, acho que posso dizer que sou uma espécie de extensão do treinador em campo. Mas não sou o único, porque uma das forças desta equipa é exatamente a capacidade que os jogadores demonstram de fazer em campo aquilo que o treinador nos pede."

"Existe uma qualidade individual incrível no plantel, mas a qualidade maior ainda consegue ser como funcionamos como equipa"TRICAMPEÃO NO BENFICA

"Ser campeão no Benfica é uma sensação indescritível. Tem que ver com a dimensão do Clube, com a sua grandeza. A escala é muito maior do que em qualquer outro clube, e isso torna o impacto ainda maior nos jogadores. Vejo isso pelos meus companheiros, sobretudo os estrangeiros, que estão rendidos ao Clube, aos adeptos, às condições que o Clube oferece. Jogar no Benfica já é uma sensação incrível, mas nada bate a sensação de ser campeão pelo Benfica. E ser campeão três anos seguidos, numa modalidade que já não era campeã há cinco anos, é ainda mais especial. Temos uma equipa realmente especial, a estabilidade no plantel, nos últimos anos, ajuda bastante, porque se criou uma verdadeira equipa, e hoje somos muito mais do que a soma de talentos. Existe uma qualidade individual incrível no plantel, mas a qualidade maior ainda consegue ser como funcionamos como equipa. E como festejamos as vitórias e como, depois de cada vitória, queremos mais. Ganhar no Benfica é viciante, e não queremos perder esse vício."

ADAPTAÇÃO A LISBOA

"Das vezes que recusei vir para o Benfica, sempre por razões familiares, a ideia é que seria uma mudança demasiado grande para a minha filha. Temia vir para Lisboa, onde é tudo mais impessoal, mesmo no Benfica. Agora, três anos depois, a escolha é ficar em Lisboa, mesmo que não continue a jogar no Clube. A ideia é manter-me por aqui, porque é o clube do meu coração e tenho vivido tempos maravilhosos. A minha filha está a criar raízes, na escola, aqui, no Benfica, onde encontra um ambiente muito familiar, nas modalidades. A minha companheira tem um emprego, com boas perspetivas de progressão na carreira. Ficar por Lisboa, independentemente do que se possa passar na minha carreira, é a nossa escolha familiar. E adoro Lisboa, as oportunidades, o tempo, que aqui é muito mais ameno do que no Norte, temos mais sol, as praias e a própria cidade em si. É uma cidade cativante, e depois, claro, tem o Benfica, que é o clube onde me sinto bem, verdadeiramente em casa."

BOA-DISPOSIÇÃO NO BALNEÁRIO

"O plantel é composto por jogadores muito profissionais, com uma dedicação extrema ao trabalho, e o nosso treinador é muito adepto de fazer treinos que puxem pela nossa competitividade. Mas, no balneário, há muita galhofa. No bom sentido. Temos o Carter, que é o mais extrovertido, mas também temos o Broussard, que tem um humor mais refinado. Fala pouco, mas tem tiradas que nos arrancam gargalhadas, mesmo que ele diga as coisas com um ar sério. É um ambiente incrível que temos no balneário, entre todos, de muita proximidade entre nós, e isso é fundamental para descomprimir da exigência dos treinos e da competição. Acho que isso se vê em campo, que temos um companheirismo muito grande e que se estende às nossas famílias. É um dos segredos deste plantel e do Benfica, pela capacidade que tem de acolher os seus atletas, as suas famílias e de nos envolver num ambiente muito familiar. Esse é o termo nas modalidades, onde encontramos uma família muito grande e muito unida."

"É um ambiente incrível que temos no balneário, entre todos, de muita proximidade entre nós"LIGAÇÃO AO BENFICA

"A ligação ao Benfica desenvolve-se muito facilmente, e o Clube contribui muito para isso. A minha ligação era sentimental, antes de profissional. E já tenho descendência, porque a minha filha, de 5 anos, anda sempre a trautear as músicas do Benfica. Como o pai, já é uma grande benfiquista, e o ambiente torna possível que os nossos filhos também sintam o Clube, porque fazemos questão de os trazer aqui. E isso, para um atleta estrangeiro, é fantástico. Vejo isso pelos norte-americanos, quando vão ao futebol, num estádio cheio, eles que estão habituados aos desportos americanos, aqui, na Luz, ficam extasiados com isto. Adoram o ambiente e adoram o Benfica. E investem em Lisboa. O Douglas quer comprar casa em Lisboa, é um investimento que faz, o Broussard está completamente rendido ao Clube, o Makram diz-me a brincar que o seu filho vai ser o base da seleção portuguesa e do Benfica no futuro. É realmente incrível a ligação que desenvolvem com o Clube."

ESTABILIDADE NO PLANTEL

"Quando cheguei ao Clube, o Benfica já não ganhava o título há cinco anos. Era necessário recuperar a hegemonia do basquetebol em Portugal. E a direção fez algo que não era habitual nos anos anteriores. Contratou um excelente treinador e começou a construir um plantel que tivesse estabilidade. São vários os jogadores tricampeões no plantel. Essa estabilidade permitiu ao treinador criar uma identidade, trabalhá-la e desenvolvê-la. Permitiu que os jogadores apreendessem mais facilmente todas as ideias do treinador, que se criasse uma ligação entre todos e que funciona. Estamos todos na mesma página, criou-se uma verdadeira equipa, e isso não se consegue se o Clube mudar de jogadores todos os anos. E é isso que ajuda, também, à integração dos jogadores que se vão juntando à equipa. Porque encontram uma máquina oleada, afinada, que os ajuda a crescer."