"O grau de exigência tem de ser sempre elevado"

 

O novo treinador da equipa feminina de andebol do SL Benfica, Luís Monteiro, está focado no arranque das competições oficiais, com uma jornada dupla fora diante de Colégio de Gaia e CJ Almeida Garrett.

Em entrevista à BTV, o técnico fez uma análise do trabalho realizado na pré-época e dos reforços. Mostrou ambição em concretizar os objetivos da temporada, que começam já por somar duas vitórias neste fim de semana.

PRÉ-ÉPOCA COM INTENSIDADE DE JOGOS

"Efetivamente, foi uma sequência de jogos muito grande. O planeamento foi feito desta forma. Tínhamos já tudo bem marcado na terceira semana de treinos, entretanto surgiu-nos a oportunidade de fazer mais um torneio, e, apesar do número elevado de jogos, não abdicámos dessa possibilidade. Depois de duas semanas de trabalho aqui no Pavilhão n.º 2 e no ginásio, achámos que estaríamos em condições de fazer esses sete jogos em seis dias. Com alguma gestão de alguma forma cuidada em termos de utilização das jogadoras, para não haver uma sobrecarga relacionada com essa afluência tão elevada de jogos, e as correram dentro das nossas expetativas."

IMPORTÂNCIA DA VARIEDADE DE JOGOS

"Principalmente, permitiu-nos auferir duas competições diferentes em que vamos participar, aliás, até três. Portanto, jogámos com adversários diretos do nosso campeonato, tivemos três jogos com equipas portuguesas, conseguimos uma boa resposta nesses três jogos, apesar de ser ainda numa fase um pouco precoce da nossa preparação. Depois, jogámos com o Porriño, que é uma equipa 4.ª classificada no campeonato espanhol, e acabámos por ganhar no desempate na marcação dos livres de 7 metros, mas dominámos boa parte do jogo e revelámos um comportamento muito interessante, principalmente nas tarefas defensivas. Um compromisso muito grande, e foi muito interessante. Na ida a Espanha começámos a acusar algum desgaste, não no primeiro jogo, que foi um bocadinho mais acessível, mas depois, na segunda e na terceira partida, ou seja, no sexto e no sétimo jogo em seis dias, com viagens extremamente longas, acusámos algum desgaste, o que nos provocou um índice competitivo um pouco mais heterogéneo. Fizemos uma boa parte com o Valladolid e uma boa parte no segundo jogo também, mas não conseguimos conjugar um fio de jogo tão constante, fator claramente associado ao desgaste físico."

"Percebemos que o Benfica é um clube diferenciado, que traz um sentido de responsabilidade diferente até para os mais velhos, quanto mais para os mais jovens"Luís Monteiro

ADAPTAÇÃO ÀS IDEIAS DO TREINADOR

"Não vim aqui descobrir algo de novo no andebol feminino do Sport Lisboa e Benfica, que é tricampeão nacional e tem dominado o panorama nacional nos últimos três anos. O que temos feito é, efetivamente, realizado alguns ajustes em termos daquilo que são conceitos que acho que são importantes. Em relação ao sistema defensivo, de um ou outro pormenor de aspetos que eu tinha analisado nos jogos relacionados com o final da época passada e que achei que podíamos corrigir. O que é certo é que as jogadoras têm uma qualidade enorme e têm correspondido ao máximo. Procurando sempre manter tudo o que de muito bom foi feito nos anos anteriores e dando aqui um cunho pessoal num aspeto ou outro baseado na minha experiência também de muitos anos ligado ao andebol de alto rendimento, corrigindo poucos aspetos que acho que devem ser corrigidos."

TIPO DE ANDEBOL PREFERIDO

"Gosto muito do andebol que o Benfica estava a praticar até agora, um andebol rápido, aproveitando todas as fases do jogo, aproveitando todos os momentos de transição defesa/ataque, jogando no contra-ataque e reposição, mas também com alguma organização. Acho que é importante algum ritmo ou disciplina tática para podermos minimizar os erros. Efetivamente, temos melhorado muito nas questões defensivas, na minha opinião. Também, do feedback que tenho tido das minhas jogadoras, temos conseguido alguma disciplina tática, uma maior organização. E, sempre que não conseguirmos finalizar em transição de contra-ataque ou de reposição rápida, temos de conseguir iniciar sempre o ataque organizado com uma ação tática mais fechada, o que nos tem dado algum conforto e alguma sistematização do trabalho que tem sido realizado."

ANÁLISE DOS REFORÇOS DA ÉPOCA"A principal alteração que surgiu está relacionada com as guarda-redes. Temos três guarda-redes novas na equipa, o que – em termos de cooperação nas tarefas defensivas, de transições defesa-ataque, que começam muitas vezes nas guarda-redes, ou quase sempre – nos levou a algum trabalho mais cuidado nesse aspeto. Mas elas têm correspondido a um nível alto. A Audília Carlos já conhecia a casa. A Matilde Rosa é uma guarda-redes que, apesar da sua juventude, tem muita experiência a nível internacional, quer nas camadas jovens, quer na seleção A. A Naomi Nascimento veio de Angola e tem-se adaptado muitíssimo bem. A Patrícia Rodrigues é também um regresso a casa, a uma casa que bem conhece. É uma jogadora canhota muito inteligente na forma como aborda o jogo, excelente na tomada de decisão e muito habituada a este nível competitivo. Temos também a Sofia Ferreira, uma pivô mais jovem também na seleção sub-20, que traz características diferentes daquelas apresentadas pela Nádia Rodrigues e pela Rita Campos, que já cá estavam. É uma jogadora de baixa envergadura, mas que traz outro tipo de recursos, o que, em termos de alternância, principalmente no jogo ofensivo, acaba por ser muito interessante."

EXPERIÊNCIA DE ORIENTAR JOVENS

"Estou muito habituado a acomodar jovens jogadores e jogadoras nas seleções nacionais, nos clubes por onde passo, esse é um trabalho que se faz com alguma tranquilidade. Percebemos que o Benfica é um clube diferenciado, que traz um sentido de responsabilidade diferente até para os mais velhos, quanto mais para os mais jovens, e procuramos também fazer esse enquadramento para que toda a gente se sinta confortável, que é o que eu tenho a clara sensação de que tem acontecido."

"Gosto muito do andebol que o Benfica estava a praticar até agora, um andebol rápido, aproveitando todas as fases do jogo"SIGNIFICADO DE TREINAR O BENFICA

"Significa uma responsabilidade enorme. O Benfica tem uma dimensão… Eu tenho falado com os meus amigos e, efetivamente, sinto uma responsabilidade enorme. É claro que tenho 57 anos, 25 anos como treinador mais outros tantos como praticante, portanto, não é algo que me tire da minha zona de conforto, mas que me leva a procurar sempre o meu máximo e o meu melhor, a procurar soluções para todos os aspetos, não descurando nada do que está à minha volta, procurando ir ao encontro das necessidades da equipa, e, para além de todos estes aspetos, o Benfica dá umas condições de conforto e de trabalho aos treinadores e às equipas que são absolutamente ímpares no panorama do desporto, até vou dizer, mundial."

OS PRIMEIROS JOGOS OFICIAIS

"É uma jornada dupla que vai ter um grau de complexidade elevado. Aliás, nós até éramos para jogar com o Colégio de Gaia em casa na 1.ª jornada, mas, atendendo ao calendário que o Benfica tem, fruto das boas prestações que tem tido, em que vai ter de disputar a Supertaça, a Copa Ibérica, competições europeias, tivemos de realizar ajustes. Eu preferia jogar com o Colégio de Gaia, no 1.º jogo, em casa, porque as variáveis eram mais fáceis de controlar, mas tivemos de alterar, e vamos fazer, efetivamente, os dois jogos fora. Temos trabalhado muito bem em termos de análise de vídeo e daquilo que são questões táticas e estratégicas principalmente para o Colégio de Gaia, mas não descurando aquilo que é a forma de jogar do Almeida Garrett também, e estou convencido de que, com uma abordagem séria e seguindo os planos de jogo que vamos desenvolver, nós conseguimos levar de vencida essas duas equipas."

SUPERTAÇA IBÉRICA E EHF

"É uma tarefa à qual vou ter de me dedicar bastante, que é colocar o foco todo nesta semana de trabalho e nestes dois jogos. Estes dois jogos são, neste momento, os jogos fundamentais. De qualquer das maneiras, se me perguntar se eu já observei, se já estou a preparar os jogos, é claro que nós fazemos uma preparação a médio/longo prazo e temos já a análise feita do Bera Bera, do Elche, do Madeira SAD, que são as equipas que vamos defrontar na Supertaça Ibérica, depois temos a Supertaça com o Madeira SAD, até mesmo o próprio ABC, já estamos a trabalhar na análise de vídeo a três/quatro semanas, mas neste momento o foco é total no Colégio de Gaia e no Almeida Garrett nesta jornada dupla, e não podemos desviar-nos um milímetro desse aspeto."

"O Benfica dá umas condições de conforto e de trabalho aos treinadores e às equipas que são absolutamente ímpares"EXPERIÊNCIA EUROPEIA DAS ATLETAS

"A EHF European League Women é uma competição diferente, mas, apesar de tudo, a participação do Benfica até uma fase extremamente avançada das competições internacionais, principalmente no ano passado, trouxe muita bagagem a algumas jovens jogadoras e a outras mais experientes, e efetivamente essa experiência pode trazer frutos numa participação europeia."

A IMPORTÂNCIA DOS ADEPTOS

"Quando cheguei aqui, falei, numa primeira entrevista, nesta vida que gravita aqui à volta do estádio e dos pavilhões, que é muito interessante, é um clube, realmente, de referência, que muita gente vem visitar. Espero que os adeptos apoiem e que sejam exigentes, porque também é um aspeto importante para conseguirmos melhores resultados. O grau de exigência tem de ser sempre elevado e tem de vir de todas as partes do Clube: da Direção, do treinador, das jogadoras e também dos adeptos. Esse grau de exigência é importante, e só o grau de exigência é que nos leva ao sucesso. Mas eu estou convicto de que isso vai acontecer, que vamos realizar boas exibições e vamos chamar cada vez mais adeptos."